segunda-feira, 14 de junho de 2010

Confessionário.

Confesso que na verdade eu queria um confessionário, um que eu pudesse expulsar todo meus demônios de uma só vez. Todos esses demônios que você, indubitavelmente me trouxe. Arrastou-os pela cidade e trouxe. Trouxe todos o que pode, até mais do que eu suportaria. Assim fiquei, endemoninhada, assim me sentia todos os dias que acordava, mas mais do que tudo, agora uma frase quer sair de dentro de mim, como expulsão, como dizia caio "não consigo mais ver nenhum anjo em você", e não vejo mesmo, vejo apenas dois olhos diabólicos, mesquinhos. Depois de hoje eu aprendi a me libertar desses demônios. Ou melhor: de você. Desse seu mundo medíocre. Não sei se percebeu, mas depois de tudo que ouvi fiquei surda, de tanto que senti, me tornei pedra. Por dentro e por fora. E agora que eu sei quem você é, consegui ver o que se escondia por trás de tudo que eu fantasiei, de tudo que eu construí. Sozinha, pois você somente se preocupava em como envenenar. Em como distribuir seu veneno em cada célula do meu corpo. Assim eu me deixei levar por tanto tempo, por esses olhos tão malditos que não suportaria um gesto de amor que eu nessa cegueira dei, dei mais do que poderia, mas agora conheço os botes de serpente que sempre preparava. Descobri que posso ter vida própria, sem mordaças, sem algemas, sem veneno, sem o seu veneno. Depois dos olhos cortados, o coração sangrado e meia vida desperdiçada, tenho uma alma que quer e grita por eu mesmo, pela minha própria companhia que eu nunca soube dar, e aos poucos terá. Lento e suave, porque o melhor ainda está por vir. Porque depois que olhei no fundo, bem dentro dos seus olhos que agora não sei descrever a cor, vi a imensa vida medíocre que tem, tudo o que tem, e sobretudo queria me tornar a mesma coisa que você: morta! sinto pena de ti. Estou viva!

Nenhum comentário:

Postar um comentário