sábado, 22 de maio de 2010

INESPERADO.

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas,meus lenços,minhas camisas.o amor comeu meus metros e metros de gravatas, o amor comeu a medida dos meus ternos, o numero dos meus sapatos, o tamanho dos meus chapeús. o amor comeu minha altura, meu peso, a cor dos meus olhos e dos meus cabelos. o amor comeu meus remédios e receitas medicas, minha dietas. comeu minha aspirinas, minhas ondas curtas, meus raios x. comeu meus testes mentais, meus exames de urina. o amor comeu na estante todos os meus livros de poesia, comeu em meus livros de prosa todas as citações de versos, comeu no dicionário a palavra que poderia se ajuntar a um verso, faminto o amor devorou os utensilios do meu uso, pente, escovas, navalha, tesouras de unha e canivetes. faminto ainda ele devorou o uso dos meus utensilios, meus banhos frios, a opera cantada no banheiro, o aquecedor de agua de fogo morto mas que parecia uma usina. o amor comeu as frutas sobre a mesa, bebeu a agua dos copos e das quartinhas, comeu o pão de proposito escondido, bebeu as lagrimas dos olhos que ninguem o sabia, estavam cheios de agua. o amor voltou para comer os papéis onde inrrefletidamente eu tornara a escrever meu nome, o amor roeu minha infância, de dedos sujos de tintas, cabelos caindo nos olhos, botina nunca engraxadas, o amor pedra. roeu as conversas, junto a bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo saibam de passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automoveis. o amor comeu meu estado e minha cidade, drenou a agua morna dos mangues, aboliu a maré, comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana conbrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pela chamines. comeu o cheiro da cana cortada e da maresia, comeu ate essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em versos, o amor comeu ate os dias anunciados nas folhinhas, comeu as futuras viagem de volta a terra, as futuras estantes em volta a terra. o amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão, comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

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